sexta-feira, 23 de maio de 2008

QUEIMADURAS

QUEIMADURAS

As queimaduras são lesões freqüentes, que envolvem principalmente a pele, produzem grande sofrimento e tratamento prolongado por meses ou anos. Seqüelas físicas e psicológicas são comuns.


QUEIMADOS INTERNADOS PELO SUS EM SANTA CATARINA
PERÍODO
INTERNAÇÕES
CUSTO em R$
ÓBITOS
2003
887
752 000
41
2004 *
1025
884 000
42
Até 09/2005
818
820 000
13 (?)

* população estimada: 5,75 milhões de catarinenses. Ou seja, 18 internações por 100 000 habitantes em 2004, por queimaduras, sem contar outros queimados ambulatoriais ou classificados em outras categorias do CID-10.

Percentual de internações do SUS por queimaduras, entre as demais internações hospitalares em SC classificadas no cap. XIX: Lesões, envenenamento e algumas outras conseqüências de causas externas (S00-T98), do CID-10:
2003: 887/24331 = 3,6 %.
2004: 1025/26595 = 3,8%
até 09/2005: 887/21636 = 4%
Total de internações do SUS em 2003: 378 237, em 2004: 373 351 e até 09/2005: 283 436.

PELE
Considerada o maior órgão do corpo humano, com várias funções, é composta por duas camadas: epi­derme e derme. Reveste toda a su­perfície externa do organismo, sendo que os orifícios corporais – boca, narinas, ânus, uretra e vagina – são revestidos por membranas muco­sas, semelhantes à pele, que também revestem internamen­te as vias aéreas e o tubo digestivo, e produzem secreção aquosa, o muco.
CAMADAS DA PELE

Epiderme: camada mais externa, com várias camadas de células, não possui vasos sangüíneos. Mais espessa em áre­as sujeitas à pressão ou ao atrito (reg. plan­tar e palmar). Impermeável à água, barreira proteto­ra contra o meio ambiente, é constantemente renovada pela descamação das células mais superficiais.

Derme: abaixo da epiderme, contém vasos sangüíneos, folículos pilosos, glândulas sudo­ríparas, glândulas sebáceas e terminações ner­vosas especializadas.

O tecido subcutâneo é o tecido logo abaixo da derme. É uma combinação fibrosa, elástica e gordurosa. Sua espessura varia de acordo com a região do corpo e de indivíduo para indiví­duo.

PRINCIPAIS FUNÇÕES DA PELE

Proteção ambiental: agentes físicos (calor, frio, radiações), quí­micos (água e várias outras substâncias) e biológicos (microrganismos).

Regulação da temperatura corporal: realizada através da vasodilatação ou va­soconstrição dos vasos da derme e da sudore­se.

Função sensitiva - tátil: as terminações nervosas especializadas da derme captam e transmitem ao sistema nervo­so central a temperatura ambiente, tato e dor.


CAUSAS E CLASSIFICAÇÃO DAS QUEIMADURAS

De acordo com a causa, profundidade, exten­são/localização e gravidade.


CAUSAS:

Térmicas: as mais comuns, causadas pelo contato com gases, líquidos ou sólidos quentes.

Químicas: causadas por ácidos ou alcalinos, po­dem ser graves; necessitam aten­dimento pré-hospitalar adequado, pois o manejo inade­quado pode agravar as lesões.

Elétricas: muitas vezes graves, quando as lesões internas, muitas vezes pouco aparentes, geradas pelo trajeto da cor­rente elétrica através dos tecidos do organismo, são ex­tensas, enquanto as lesões das áreas de entrada e saída da corrente elétrica na superfície cutâ­nea são pequenas. O que pode subestimar a avaliação da lesão.

Radiantes: raios ultraviole­tas (UV – queimaduras solares, geralmente superficiais de pouca gravidade); raios X; ou por radiações ioni­zantes, raras, porém relacionadas a seqüelas de longo prazo e a alto risco de contaminação ambiental e dos envolvidos nestas situações.


PROFUNDIDADE

De acordo com os tecidos atingidos e suas camadas. Esta classifi­cação orienta o atendimento pré-hospitalar e o atendimento médico definitivo. É uma estimativa muito útil, principalmente se associada às regiões atingidas, permitindo cálculos relacionados ao tratamento e prognóstico. Evidentemente, a real profundidade e extensão da lesão estará relacionada à sua evolução.

Primeiro grau (Superficiais): atingem apenas a epiderme; mas eritema, calor, ocasionalmente edema; dor leve ou a moderada (ex.: queimaduras solares), representam reação dérmica.

Segundo grau: atingem a epiderme e a derme, com dor severa; eritema e flictenas. Há desestruturação tecidual da derme.

Terceiro grau: atingem pele, tecido subcutâneo e outros tecidos subjacentes. Lesões se­cas, de cor esbranquiçada, como couro, ou então enegrecidas pela carbonização dos tecidos. Indolores (destruição das terminações nervosas); porém áreas adjacentes da pele apresentam lesões menos intensas e, portanto, dolorosas.


EXTENSÃO – LOCALIZAÇÃO

Normalmente calculada como porcenta­gem da área da superfície corporal, é importante na determinação da gravidade, do tratamento e do prognóstico, utilizando-se geralmente a "regra dos nove". No adulto cada membro superior corresponde a 9% da área da superfície corporal; as partes ventral e dorsal do tronco correspondem cada uma a 18 %; cada membro inferior 18%; a cabeça 9% e a área genital l %. As crianças abaixo dos três anos de idade têm a cabeça proporcional­mente maior que os adultos, assim, correspondendo a 18 % da área da superfície corporal e inversamente, cada membro inferior, 13,5%. Para avaliação da extensão de queimaduras menores pode-se utilizar como medida a palma da mão da vítima que corres­ponde a aproximadamente 1% da área da su­perfície corporal.

PARTE DO CORPO
ADULTOS
CRIANÇAS < 3 anos
Cabeça
9%
18%
Braço
18%
18%
Tronco (frente)
18%
18%
Tronco (costas)
18%
18%
Genitália
1%
1%
Pernas
36%
27%
TOTAL
100%
100%


QUEIMADURAS GRAVES

Segundo grau > 25% da superfície corporal.
Terceiro grau >10% da superfície corporal.
Terceiro grau envolvendo face, mãos, pés ou genitais.
Queimaduras associadas a fraturas ou outras lesões de partes moles.
Queimaduras das vias aéreas ou lesão respiratória por inalação.
Queimaduras elétricas.
Vítimas idosas ou com doenças graves preexistentes.

OBS.: Considera-se grande queimado mais de 20% de área atingida com 2º ou 3º graus (10% na criança) ou queimadura de face, queimadura química ou elétrica. Considerar o envolvimento do períneo ou pescoço é polêmico.


QUEIMADURAS MODERADAS
Primeiro grau, de 50% a 75% da superfície corporal.
Segundo grau, de 15% a 25% da superfície corporal.
Terceiro grau, de 2 a 10% da superfície corporal.

QUEIMADURAS LEVES
Segundo grau, <15% da superfície corporal.
Terceiro grau, <2% da superfície corporal.


ATENDIMENTO AO QUEIMADO

O atendimento inicial segue praticamente a mesma seqüên­cia do atendimento de vítima com outras formas de trauma. Considerar o gran­de queimado como politraumatizado; freqüentemente há outras lesões as­sociadas. Existem particularidades no atendi­mento que serão abordadas a seguir.

1. SEGURANÇA DA EQUIPE
A primeira preocupação da equipe deve ser com a própria segurança, em qualquer situação, reforçada em ambientes hostis (chamas, gases tóxicos, substâncias corrosivas, fumaça, risco de explosões e desabamentos).


2. INTERRUPÇÃO DO PROCESSO LESIVO

Extinção das chamas sobre a vítima ou suas roupas.
Remoção da vítima para ambiente seguro.
Remoção das vestes não aderidas ao corpo da vítima.
Resfriamento da lesão – SE CALOR – de fragmentos de roupas, ou de substâncias (asfalto, plásticos) aderidas ao corpo da vítima. Interrupção da propagação física secundária, tecidual, do mecanismo agressor (geralmente o calor).

Vide Queimaduras químicas mais adiante no texto.


3. SBV

A. Vias Aéreas

O comprometimento das vias aé­reas sempre é grave, e facilmente leva à obstrução das vias aéreas superiores. A extensão e a gravidade da queimadura das vias aéreas podem ser subes­timadas na avaliação inicial porque a obstru­ção se desenvolve gradualmente com o edema dos tecidos lesa­dos. Estas vítimas podem necessitar de intu­bação endotraqueal antes que uma obstrução severa a impeça, portanto é muito importante a iden­tificação de queimadura das vias aéreas. Sinais de alerta são:

· Queimaduras faciais.
· Queimaduras das sobrancelhas e vibris­sas nasais.
· Depósito de fuligem na orofaringe.
· Faringe avermelhada e edemaciada.
· Escarro com resíduos carbonáceos.
· História de confinamento em ambiente incendiário ou explosão.


B. Respiração

Além da queimadura das vias aéreas, ou­tras lesões por inalação potencialmente gra­ves são as causadas por inalação de fumaça e a intoxicação por monóxido de carbono. Sus­peite sempre que isto possa ter ocorrido se há história de confinamento em ambientes incen­diários, explosão ou se a vítima apresenta al­teração do nível de consciência.

Inalação de Fumaça e Subprodutos da Combustão
Partículas inaladas com a fumaça e certos subprodutos resultantes da combustão incom­pleta de combustíveis atingem as vias aéreas inferiores e o pulmão, podendo causar lesão química dos brônquios e alvéolos pulmona­res. Os sintomas destas lesões muitas vezes só aparecem algumas horas após a inalação ao se desenvolver a inflamação dos brônquios ou do pulmão. As lesões por inalação são responsá­veis por uma significativa parcela das mortes por queimaduras. O tratamento no ambiente pré-hospitalar consiste em afastar a vítima da fumaça e administrar oxigênio.

Intoxicação por Monóxido de Carbono
O monóxido de carbono é um gás incolor, inodoro e sem gosto. Ele não causa lesão dire­ta às vias aéreas ou ao pulmão, mas possui uma afinidade com a hemoglobina 200 vezes maior do que a do oxigênio. Quanto maior a quantidade de monóxido de carbono inalada, menor a quantidade de hemoglobina ligada ao oxigênio (oxiemoglobina). A diminuição da oxiemoglobina leva à hipóxia tecidual que, se severa, pode levar à morte (náuseas e cefaléia intensa, confusão mental, inconsciência, óbito). A pele pode se apresentar com um tom vermelho cereja. A oximetria de pulso pode levar a conclusões falsas, ao medir hemoglobina satu­rada, seja com oxigênio ou mo­nóxido de carbono, conseqüentemente o re­sultado obtido deve ser encarado com reser­vas. Assim, o indivíduo pode estar com uma intoxicação severa por monóxido de carbono, inconsciente, e a leitura da saturação pode marcar 100% por causa da grande quantidade de carboxiemoglobina.
O tratamento consiste na administração de oxigênio na maior concentração possível, de preferência a 100% nas vítimas inconscien­tes, o que deve ser obtido preferencialmente com a intubação endotraqueal.


C. Circulação

O grande queimado perde líquidos através das áreas queimadas e no edema, progredindo para choque hipovolêmico. O cho­que precoce, logo após a queimadura, nor­malmente acontece por outras lesões associ­adas com hemorragia.
Retirar anéis, pulseiras, relógios ou quaisquer outros objetos da área queimada, prevenindo a isquemia secundária ao edema da região.


Avaliação Neurológica
Alterações multifatoriais (hipóxia, monóxido de carbono, lesões associadas) da consciência.


Exposição ambiental
Os agentes causais devem ser neutralizados. Os grandes queima­dos são especialmente suscetíveis à hipoter­mia e esta deve evi­tada (cobrir a vítima).



CUIDADOS COM A ÁREA QUEIMADA

CURATIVOS realizados após a abordagem inicial da vítima.

Diminuir a dor.
Diminuir a contaminação.
Evitar a perda de calor.

Freqüentemente a dor causada pelas quei­maduras é severa. Uma medida simples para o combate à dor é um curativo corretamente realizado. Nas queimaduras de pequena exten­são podem ser utilizados curativos úmidos com soro fisiológico ou água limpa, frios (não devem cobrir mais do que 10% da superfície corporal; risco de hipotermia). As queimaduras de ter­ceiro grau não devem ser cobertas com curati­vos úmidos porque são indolores. Nas lesões de grande extensão é preferível envolver ou cobrir a vítima com lençóis limpos secos. Não se remove roupas firmemente aderidas nem se rompe flictenas. Os curativos devem ser es­pessos e firmes, mas não apertados.


QUEIMADURAS QUÍMICAS

Por con­tato da pele com substâncias cáusticas. As queimaduras por álcalis são mais graves (as substâncias alcalinas penetram mais profundamente nos tecidos) do que as causadas por ácidos.

O tratamento inicial é irrigar imediata e abundantemente a área atingida, com água corrente ou muito soro fisiológico, para a diluição e retirada do agente cáustico, que continua a rea­gir enquanto em contato com os tecidos. Não se usa substâncias neutralizantes. A utilização de compressas úmidas pode agravar a lesão (a água em pequena quantidade reage com a substância cáustica, pro­duz calor e pode aumentar a severidade da lesão, além de redistribuir o agente). Deve-se retirar as roupas e sapatos da vítima enquanto se procede à irrigação (evitar acúmulo de líquidos ainda em concentração cáustica suficien­te para produzir queimaduras). Evitar que o líquido da irri­gação escorra por áreas não queimadas. O so­corrista tem que se proteger durante o procedimento.

Substâncias cáusticas em pó ou cristais (soda cáustica) devem ser retiradas por escavação. Somente irrigar as queimaduras produzidas por pós se as lesões estiverem úmidas.


LESÕES PRODUZIDAS PELO FRIO

LESÕES LOCALIZADAS
Temperaturas próximas ou abaixo do pon­to de congelamento da água podem produzir isquemia tecidual e congelamento e, assim, lesões teci­duais. As áreas mais comumente afetadas são dedos, mãos, pés, face e orelhas. A pele se apresenta acinzentada ou amarelada e fria, com dor ou amortecimento lo­cal; as lesões mais profundas deixam a pele com aspecto de cera; dor e amortecimento desaparecem porque as terminações nervosas são lesadas.
As lesões superficiais podem ser tratadas por reaquecimento, colocan­do-se a região atingida em contato com a superfície corporal aquecida. As lesões profun­das só devem ser reaquecidas em ambiente hos­pitalar. Estas lesões são raras em nosso meio.

HIPOTERMIA
Resfriamento generaliza­do do organismo por exposição prolongada a temperaturas baixas mas, ainda assim, acima do ponto de congelamento.
A transferência de calor corporal é 25 vezes mais rápida em meio lí­quido do que no ar. A severidade da hi­potermia é proporcional ao tempo de exposi­ção ao frio. Ocorre mais facilmente com crianças (principalmente recém-nascidos), idosos, alcoolizados, desagasalhados, desnutridos, queimados, e com altera­ções da consciência .

A hipotermia é sempre uma possibilida­de para qualquer vítima, mesmo que as condições ambientais não sejam propícias. Os sinais e sinto­mas são progressivos. Lembrar que os termômetros comuns de mer­cúrio só marcam a temperatura mínima de 35°C graus.

35 A 32 °C: tremores (calafrios), inicialmente discretos e depois violentos (músculos fibrilam ou abalam para produzir calor). A vítima se queixa de frio e tenta combatê-lo com movimentos corporais; pode apresentar respostas verbais e motoras lentas, falta de coordenação motora e confusão mental quando a temperatura se aproxima dos 32 graus. A pele pálida e fria.

32 a 28°C: cessam os tremores e diminui o nível de consciência (a vítima deixa de "lutar" contra o frio); hipotensão arterial; bradisfigmia ou pulso irregulat, de palpação difícil (palpar pulsos centrais); bradipnéia; pupilas midriáticas e fixas.

28 a 25°C: depressão intensa dos sinais vitais; ausência de PA ou pulso; bradipnéia ou apnéia; inconsciência ou coma; risco de FV; vítima "aparentemente morta".

25°C: geralmente sobrevém a morte

TRATAMENTO

Segue-se o A, B, C, D e E do trauma. Prevenir perdas adicionais de calor, manusear cui­dadosamente a vítima e transportá-la sem de­mora a um hospital.

Manusear a vítima delicadamente (risco de fibrilação ventricular).
Colocar a vítima em ambiente aquecido.
Retirar roupas molhadas e agasalhar o paciente com roupas secas ou cobertores.
Posicionar a vítima em posição de cho­que se estiver hipotensa.
Não dar bebidas alcoólicas à vítima.
Em caso de parada cardiorrespiratória manter SBV por tempo prolongado (a vítima em hipotermia suporta tempos mai­ores de hipóxia e só deve ser declarada morta após rea­quecimento, principalmente criança). Vide afogamento.

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